Uma maneira de manter vivo alguém que gostamos são suas recordações, memórias, histórias. No caso de Cláudio Weber Abramo, além das vivências que seus amigos e familiares ainda carregam, ele também deve ser lembrado por ter inspirado várias gerações de jornalistas investigativos e ativistas que acreditam na transparência e no acesso à informação.
Impressiona listar seus principais trabalhos e, talvez, mais ainda pensar que foram feitos em uma época em que os recursos tecnológicos eram menores e em que o conceito de transparência para a manutenção e fortalecimento das democracias ainda era recente no Brasil.
Esse paulistano teve uma formação acadêmica que hoje faz todo o sentido na visão multidisciplinar e técnica que o jornalismo moderno alcançou - formou-se em Matemática pela USP, foi mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela Unicamp. Ele também era filho de outro gigante do jornalismo brasileiro, Cláudio Abramo. Sua mãe, Hilde Weber, foi a primeira chargista mulher da imprensa brasileira.
Em sua trajetória própria no jornalismo, Claudio Weber Abramo foi editor de Economia do jornal "Folha de S.Paulo" e editor-executivo da "Gazeta Mercantil" nos anos 1980 - mas com seu pensamento crítico, pioneirismo e intersecção com outros temas de interesse público, foi bem mais do que isso.
Sua paixão pelo jornalismo era também a paixão pela transparência das informações de interesse coletivo e pelo combate à corrupção, o que o levou a defender essa causa até seus últimos dias de vida. Abramo cofundou em 2000 e comandou por quase 15 anos a ONG Transparência Brasil, na qual criou o projeto Excelências, banco de dados sobre o histórico da vida pública de parlamentares, vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo em 2006.
Com isso, também colaborou para fortalecer no jornalismo a intersecção com outras ciências, o que hoje se convencionou chamar de jornalismo de dados - o uso do método científico, dos dados abertos e de tecnologias para criar investigações mais profundas e extensas. Por exemplo, Abramo foi pioneiro na junção de programação e jornalismo - os dois projetos aqui disponibilizados, CruzaDados e Datascópio, foram programados por ele na linguagem PHP, a qual aprendeu sozinho.
Um outro exemplo do que Abramo fez na Transparência Brasil foi o projeto Às Claras, plataforma que organizava e disponibilizava dados sobre o financiamento das eleições - algo que hoje várias redações e projetos jornalísticos realizam.
Mas talvez uma das maiores realizações de Abramo tenha sido a série de articulações, debates e estudos que fez para a aprovação da Lei de Acesso à Informação, concluída em 2011, em conjunto com as entidades que compõem o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas - criado em 2003, ao final do Seminário Internacional Direito de Acesso à Informação Pública, por iniciativa da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
Em 2017, Abramo fundou a Dados.org, uma organização que era dedicada à coleta, organização e disseminação de informações provenientes do poder público. O CruzaDados e o Datascópio, que voltam a se tornar acessíveis aqui, faziam parte do Dados.org.
Cláudio Weber Abramo morreu em 12 de agosto de 2018, aos 72 anos. Após sua morte, a família do jornalista gentilmente doou os conteúdos e projetos do Dados.org à Abraji.